Luto Infantil
- florescendoosaber
- 8 de jan. de 2024
- 4 min de leitura

Além de ser reação à perda ou à morte de alguém, o luto infantil é a reação à própria percepção da finitude da vida, ou seja, quando morre uma pessoa próxima ou mesmo um animal de estimação, a criança percebe que a morte é real e que outros entres queridos também se vão um dia. O luto infantil é também o momento em que a criança presencia a fragilidade dos adultos a sua volta, ela percebe que as suas referências também sofrem e choram, por isso, não deve ser menosprezado ou visto como menos importante. Assim como os adultos, o luto infantil envolve múltiplos sentimentos e pode levar tempos diferentes para ser assimilado, neste processo a honestidade, escuta e acolhimento são as melhores ferramentas.
Como a criança entende a morte?
A compreensão do que é a morte, caminha junto com o desenvolvimento cognitivo da criança. Dessa forma, a percepção do que está acontecendo tende a ser diferente conforme a idade.
Antes dos 3 anos: A criança percebe a morte como apenas a ausência, a falta e pensa que pode ser revertida.
De 3 à 5 anos: A criança fantasia mais sobre o tema e pode acreditar que pensamentos e palavras tem o poder de provocar ou evitar a morte. Assim é comum que ela se sinta culpada caso venha falecer alguém com que ela tenha brigado.
De 5 à 9 anos: A criança entende a morte como objetivo definido e inevitável, mas pode apresentar dificuldades em expressar os sentimentos. Ela pode começar a questionar as crenças da família em relação ao tema.
A partir dos 10 anos: A criança consegue pensar na morte de forma mais abstrata e formular hipóteses sobre as causas, além de perceber o impacto da ausência nas outras pessoas.
Mais do que a idade, as experiências que a criança tem com morte podem influenciar o entendimento dela sobre o assunto, podendo também variar conforme a frequência com que o tema é abordado no seu entorno. Mas para saber como a criança realmente está percebendo uma situação de luto, é fundamental ouvir o que ela pensa sobre o tema.
Como falar sobre a morte
A compreensão do ciclo e da finitude da vida podem ser transmitidas de várias formas mesmo antes de ter um falecimento próximo a criança.
Ver fotos antigas da família, relembrar histórias de pessoas que não estão mais entre nós, mas que deixaram boas memórias.
Se a criança tiver curiosidade, vale explicar porque a pessoa morreu e como você se sentiu, como fez para superar a perda.
O cinema e a literatura infantil também são ferramentas para auxiliar nas conversas difíceis,
Como contar?
Não tem uma fórmula fácil, é uma noticia difícil de dar, pois não há uma verdade absoluta sobre a morte, há diferentes culturas e religiões que apresentam suas versões e explicações. O que sabemos e precisamos explicar é que aquela pessoa não voltará a viver ali, seu corpo deixou de funcionar.
Seja honesto e aberto com as crianças sobre seus sentimentos, pois elas percebem que não estamos bem.
Fingir ou esconder sentimentos apenas transforma em tabu
"Virar estrelinha", "ir morar no céu", são metáforas que podem ajudar na construção de uma conversa afetiva com a criança. Porem é preciso tomar cuidado com as expressões "foi viajar" ou " está dormindo", pois pode provocar uma confusão de conceitos, deixando a criança com medo de dormir ou viajar, por exemplo.
É indicado levar a criança no funeral?
É uma decisão da família, de acordo com seus valores e rituais. Cerimonias de funeral ajudam a entender melhor o que é a morte e como ela é vista no nosso meio.
Se decidir levar a criança é importante que haja pelo menos um adulto de confiança em condições emocionais de acolhe-la durante a cerimonia. Pois a criança pode ter dúvidas sobre o corpo da pessoa velada, pode se assustar diante do sofrimento dos pais, e neste caso é importante ter calma e explicar o que está acontecendo.
Se decidir não levar, é importante deixa-la com algum adulto de confiança da sua rede de apoio. Em um momento que os pais estiverem mais calmos é importante que os pais conversem com a criança sobre o assunto, contar como foi, levar ao cemitério onde foi enterrado.
O luto não é uma doença, mas é uma reação natural à perda, além da tristeza podem ocorrer sintomas físicos, dor no peito, alteração no sono e no apetite. Quando o sofrimento se prolonga por muito tempo, é importante contar com apoio psicológico para ajudar a superar e retornar a vida.
É comum que algumas crianças se fechem e não queiram falar sobre o assunto com os familiares, este comportamento pode ser um receio de trazer mais preocupação e sofrimento dos adultos. A criança também passa pelas fases de: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação. Nem sempre acontece de forma linear, os sentimentos podem ir e voltar muitas vezes, no luto infantil a definição das fases é menos nítida, cada criança pode reagir de forma diferente conforme o entendimento que ela tem sobre a morte. Com um profissional a criança tende a se abrir com mais tranquilidade, a terapia ajuda a entender os sentimentos e orientar a família sobre a melhor forma de ajudar a criança, a sua criança, pois cada criança é de uma forma.




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